No mundo dos apicultores já se ouviu das famosas abelhas assassinas. E sobre este assunto existe muita coisa mal contada. Venha conhecer a história dessas abelhas e sua influência na apicultura atual.
A criação de abelhas se trata de um ramo da zootecnia moderna que possui enorme importância para a manutenção do comércio exploratório do mel e seus derivados, como o própolis, a geleia real e o pólen. Estes produtos podem ser usados tanto para o consumo, quanto para utilização como matéria prima de outros diversos produtos.
Para leigos, histórias como as retratadas pelo filme de 2002, “Abelhas assassinas”, da diretora canadense Penelope Buitenhuis, podem desqualificar a imagem das abelhas, as associando a um “papel de assassinas” na natureza. Neste filme, um acidente libera inúmeras abelhas que acabam se tornando responsáveis por diversos ataques e homicídios dos moradores de uma pequena cidade. Um tanto quanto assustador, não é mesmo?
Se você ficou curioso para saber sobre essas abelhas e a sua relação com a apicultura, leia atentamente até o final deste artigo para saber mais.
Quem são as abelhas assassinas?
Também conhecidas como abelhas africanizadas, as famosas abelhas assassinas são resultado do cruzamento guiado humanamente entre duas espécies desses animais, as africanas (m. Scutellata) e abelhas europeias (como as m. Ligustica).
Os animais fruto desse cruzamento são extremamente semelhantes com seus antepassados, possuindo coloração amarelo ouro com listras pretas. A única maneira de diferenciar esta subespécie de seus parentes é a partir da mensuração e comparação do comprimento de seus corpos. As abelhas africanizadas são ligeiramente maiores do que as espécies originais.
Estes insetos possuem ótima capacidade para produção de mel, porém possuem um forte instinto territorialista, reagindo mais rapidamente a incômodos do que suas espécies de origem. São capazes de perseguir um alvo por até 400 metros e já foram responsáveis por cerca de 1000 mortes desde sua introdução. Algumas dessas vítimas receberam 10 vezes mais ferroadas do que quando comparado com os ataques de abelhas europeias.
Existem inúmeras subespécies do cruzamento destas espécies no mundo, todas elas possuindo capacidade de se reproduzir. Entretanto, as abelhas africanizadas existentes nas Américas são descendentes diretas dos experimentos com abelhas realizadas pelo geneticista e biólogo brasileiro Warwick Estevan Kerr.
A história da criação
Como fora dito anteriormente, as abelhas assassinas foram resultado do cruzamento entre abelhas produtoras de mel provenientes da África e da Europa. Esse experimento foi realizado com a intenção da criação de abelhas com maior capacidade de produção de mel. Além disso, este ensaio buscava também insetos que possuíssem a capacidade de se adaptarem adequadamente às diferentes adversidades do clima que fossem expostos.
O responsável pela criação dessa subespécie, o estudioso brasileiro Warwick Estevan Kerr, as deixava em um apiário isolado no interior da cidade de Rio Claro, no estado de São Paulo, no Brasil, na década de 1950. Ao redor dessas colmeias existiam diversas formas de evitar a fuga desses animais.
Segundo o próprio cientista responsável, em 1957, um apicultor de fora percebeu que as telas de proteção estavam dando interferência na movimentação das abelhas e, por isso, as removeu. Tal ato teve como resultado a liberação de inúmeros exemplares desse espécime em exames no meio ambiente.
Essas abelhas se espalharam por quase toda extensão do continente das Américas e, nesse meio tempo, passaram a se reproduzir com os exemplares de abelhas europeias locais. Além disso, foi observado que as abelhas africanizadas eram uma espécie biologicamente invasiva, pois se apropriaram de locais que inicialmente não habitavam e se desenvolveram muito bem a estas localidades.
Apesar de muito produtivas, a agressividade desses animais foi um grande problema para o Brasil da época. Através de matérias sensacionalistas de jornais e programas de televisão, elas ficaram conhecidas como “Abelhas Assassinas” devido aos acidentes graves, muitos resultando em morte, que aconteceram no período.
Nesse momento, esses animais passaram a ser vistos como pragas e diversas campanhas de extermínio começaram a surgir. Entretanto, essas campanhas não se restringiam aos meios de cultura em apiários, mas também afetaram as matas. A partir deste fato, que demandava um alto custo dos estados, ocorreu um enorme dano ecológico para o meio ambiente.
Marco da apicultura
Como resultado destas campanhas, os criadores de abelhas começaram a abandonar seus campos de serviço e, com isso, houve uma queda expressiva na produção de mel e seus derivados no país. Foi observado que as técnicas de tratamento para a criação das abelhas africanizadas que estavam sendo aplicadas não estavam sendo efetivas, pois eram voltadas inicialmente para a criação de abelhas europeias. As principais diferenças eram:
- Vestimentas inadequadas;
- Fumigadores fracos e pequenos;
- Técnicas de manejo
- Colmeias próximas a espaços residenciais
Foi comprovado que todos estes fatores, em conjunto com a natureza agressiva da espécie, influenciam nos números de acidentes com estes animais.
A partir da identificação desses fatores, foi possível que a apicultura conseguisse se modernizar e se adaptar às formas de manejo corretas desses animais. Outras medidas também foram tomadas para diminuir a agressividade das abelhas africanizadas, como
- o incentivo ao cruzamento com espécies italianas (visando manter a produtividade); investimentos em pesquisa científica;
- maior participação dos apicultores em simpósios e congressos científicos;
- a formação da Confederação Brasileira de Apicultura (1967);
Atualmente, observa-se que essas abelhas são uma das principais contribuintes pelo avanço da apicultura no país. Além disso, a agressividade foi associada com a diminuição dos números de roubos da produção e a adaptabilidade como uma qualidade na resistência à pragas e mudanças climáticas.
Fonte: Smithsonian – NHM