Poucos períodos da história são tão incompreendidos quanto a Idade Média. As vezes chamada de “Idade das Trevas”, esse momento da história ocidental é cercado de atribuições que nem sempre corresponderam ao real. Mas afinal de contas o que foi a Idade Média?
A princípio o que vem a mente é aquela imagem de ruína da Europa após o fim do Império Romano. Uma época de governos injustos, decadência cultural e educacional, e sujeira generalizada. Enfim, um longo período de obscuridade que durou até o Renascimento.
Mas boa parte desse resumo é enganoso. Ao contrário, a Idade Média foi um período muito mais complexo e intrigante para os historiadores. Assim, este texto irá ajudar a desvendar essa época de forma acessível para o leitor.
O sistema feudal
É impossível saber o que foi a Idade Média sem entender o sistema feudal. Substituindo a velha ordem escravista da Antiguidade, o feudalismo definiu economicamente e politicamente o período. Abaixo ofereceremos um guia breve das características da ordem feudal.
Uma nova relação social
A era feudal surgiu das ruinas das civilizações clássicas. Foi definida pelas relações econômicas e políticas com base na propriedade do campo. Assim, os chamados feudos eram grandes propriedades rurais centralizadas em certa nobreza. Tiravam sua produção da própria terra e viviam dela.
Assim, a economia feudal dependia de produção rural. Se valorizava a troca a partir de uma produção local de bens agrícolas, que mantinham a estrutura comunitária. Já em termos políticos, significou um enfraquecimento de formações nacionais. Assim, reis tinham o poder limitado.
Senhores e servos
Sem dúvidas, o cerne do feudalismo são as relações de classe que passam a ser estabelecidas em sua proposta. Essas relações têm atores complexos que desempenham um papel singular, como o clero. Mas a base social que convém ao feudalismo europeu é na relação entre servos e senhores.
Os senhores eram a classe de guerreiros que dominava os feudos. Já os servos trabalhavam na colheita agrícola presente nesses domínios. A relação se baseava na proteção que os senhores como detentores das terras ofereciam aos servos. Já os servos cediam sua produção para o sustento dos nobres.
A nova velha sociedade
Além da decadência do Império Romano, o feudalismo europeu se formou de relações sociais já costuradas pelos chamados povos bárbaros. Ou seja, a estrutural social feudal surge como uma evolução das relações já cultivadas por esses povos. Assim, eles colocaram como dominantes padrões antes tidos como marginais.
Nada mais revelador do que isso do que os pactos de suserania e vassalagem. Sendo a relação básica da dominação entre senhor e servo, esses pactos são herdados desses povos tribais. Neles, o senhor cede um pedaço da sua terra para ser usado pelo servo, que lhe jura lealdade.
Os encadeamentos da Idade Media
A Idade Media ocidental construiu sua estrutura social e política a partir das normas do feudalismo europeu. Mas qualquer texto sobre o que foi a Idade Média está incompleto sem mencionar as nuances dessa era. Assim, traremos à tona os fatos que revelam a riqueza histórica e cultural da época medieval.
A ascensão da Igreja
O final da Antiguidade marcou a ascensão do cristianismo de uma fé perseguida para uma religião de Estado. Já a Idade Média consagrou e solidificou a hegemonia cristã no Ocidente. Algo que refletiu em um clero poderoso, que se constituía em uma elite política e intelectual do período.
Na Europa a Igreja foi protagonista de alguns dos grandes eventos que marcaram a Idade Média. Seu poder foi capaz de mobilizar a nobreza às Cruzadas contra o expansionismo islâmico. Também sofreu uma separação fundamental entre a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa Grega.
A cultura na Idade Média
Apesar de Igreja deter o domínio sobre o conhecimento acadêmico, isso passou longe de ser um apagão na cultural. Afinal, ocorreu na Idade Média o surgimento de vibrantes formas de cultura popular. Foram formas e práticas artísticas que afetavam a cotidianidade e deixariam um legado rico para o futuro.
Obras como o Beowolf, o Cantar de mio Cid, os Contos da Cantuária e A Divina Comédia marcaram a literatura ocidental. Material que refletiu uma cultura popular rica de cantos e trovas, literatura religiosa e secular. Também indicaram novas formas de sensibilidade como o amor cortês, os jograis e a beleza divina.
Alta e Baixa Idade Média
É bem conhecida a divisão do período medieval europeu entre Alta Idade Média e Baixa Idade Média. A Alta Idade Média se estima entre o século V a X depois de Cristo. Já a Baixa Idade Média ocorreu entre o século XI ao XIV depois de Cristo.
Durante a Alta Idade Média é que se consagram as formações sociais peculiares ao período feudal. Aqui se juntam momentos como a queda do Império Romano, o Renascimento Carolíngio e as Cruzadas. Já a Baixa Idade Média surge como o período de decadência do feudalismo. Aqui aparece a pandemia da Peste Negra e o aparecimento da burguesia.
Conclusão
Sobre o que foi a Idade Média se pode dizer que foi um período fundamental para a formação do ocidente. Longe de ser um momento de obscurecimento e “trevas”, marcou a consagração de atores e fundamentos importantes na história humana. Ao mesmo tempo que respondeu a dinâmica peculiar de uma sociedade feudal.
Aliás, a importância da Idade Média vai muito além dos grandes eventos. Sua importância também serve para lembrar do papel do cotidiano na formação histórica. Isso em vista que muito da cultura popular medieval viria a marcar a imaginação nas eras posteriores.
Fontes: Britannica – World History
Imagem: Pxhere
