O dia da mentira é uma oportunidade anual para as pessoas pregarem peças umas nas outras. A brincadeira é antiga e, segundo estudiosos, remonta de séculos atrás. A partir daqui nós entenderemos melhor por que o 1° de abril é o dia da mentira e suas possíveis origens.
Qual a origem do dia da mentira?
O dia da mentira acontece em 1° de abril e é uma brincadeira para pregar peças e enganar as pessoas. Sejam boatos, fofocas, notícias falsas ou até armações elaboradas, a data costuma ser um jogo divertido entre as pessoas.
A princípio, historiadores não possuem documentos oficiais completos sobre a origem do dia da mentira. Contudo, existem teorias e indícios que relacionam o dia às brincadeiras nas civilizações mais antigas. Alguns estudos sugerem que versões da brincadeira remontam à Idade Média.
A mentira do calendário Gregoriano
O dia da mentira surgiu nos países de língua inglesa, após alterações no calendário da França no ano de 1563. Nessa época havia uma grande discussão a respeito da implantação de um novo calendário: o Gregoriano. Afinal, o Calendário Juliano estava ultrapassado e não era tão alinhado às mudanças de estação.
A princípio, as pessoas comemoravam o Ano-Novo na França no dia 25 de março, já que era o começo da primavera. Tal evento durava 1 semana e se estendia até o dia 1° de abril. Entretanto, o rei Carlos IX decretou a mudança do evento para o dia 1° de janeiro.
O Parlamento aprovou a alteração e oficializou o começo do Ano-Novo no dia 1° de janeiro. Porém, muitas pessoas se recusaram a aceitar o novo início do ano e continuaram a comemorar no dia 25 de março. Outras histórias indicam que a novidade demorou para circular por todo o reino e muitas pessoas souberam da novidade tardiamente.
Diante disso, muitas pessoas que adotaram o novo calendário passaram a pregar peças em quem ainda seguia a data antiga. Chamados de “Poisson d’avril” ou “bobos de abril”, as pessoas recebiam presentes inusitados ou eram convidados para festas inexistentes.
É provável que o dia da mentira seja ainda mais antigo do que os registros oficiais. O indício é um poema de Eduard de Dene, poeta que viveu durante o século XVI. Segundo o mesmo, as práticas dessa data remontam a outras festividades mais antigas.
Referências na cultura romana
Alguns registros indicam que em Roma, na Itália, havia celebrações como o dia da mentira. Conhecido como “Hilaria”, o festival datado antes de Cristo acontecia durante a época do equinócio vernal, como forma de celebrar a deusa Cibele. Conhecida como a “Grande mãe”, a deusa era símbolo do poder romano.
O festival Hilaria era uma forma dos romanos aproveitarem os dias mais longos que as noites invernais. Para tanto, eles celebravam por oito dias seguidos, realizando comemorações e brincadeiras. O último dia era considerado o Hilaria e acontecia no dia 25 de março. Nesse dia, as pessoas brincavam entre si, fazendo jogos divertidos e pregando peças por entretenimento.
O festival Hilaria evoluiu para um baile de máscaras mais sofisticado e os romanos se disfarçavam entre si. Nesse sentido, as pessoas tinham permissão para representar figuras importantes da sociedade e se passarem por elas. Em seguida, elas corriam pela cidade pregando peças na população.
Equinócio vernal como “marco da mentira” e a brincadeira hoje
Em tempos antigos, as pessoas ao redor do mundo usavam o equinócio vernal como referência para festividades. Ou seja, apesar dos romanos popularizarem brincadeiras e festividades parecidas com o dia da mentira, eles não inventaram as festas na época da primavera.
O Irã realizava brincadeiras semelhantes ao dia da mentira no 13° dia do Ano-Novo local. A data acontece durante o 1° de abril e as pessoas faziam diversas brincadeiras para celebrar a ocasião. Para muitas pessoas, era uma forma de celebrar o fim do inverno e as restrições impostas pelo clima.
Hoje, as pessoas adotaram o dia da mentira como um feriado não oficial. Em países cujo idioma inglês é dominante, o dia recebe o nome de “April Fool’s Day” ou “Dia dos bobos de abril”. Muitas ações, inclusive de Marketing, usam a data para brincar com o público e gerar lucro.
Na França, a brincadeira é chamada de “Poisson d’avril” e na Itália a celebração é conhecida como “Pesce d’aprile”, cuja traduções podem ser lidas como “peixe/peça de abril”.
Os alemães batizaram o dia da mentira como “AprilSchertz” no ano de 1618 na Baviera. Na tradição alemã, as pessoas podiam contar mentiras inocentes à vontade. Porém, a principal característica era mandar uma pessoa realizar desafios sem lógica ou enviar recados aleatórios para outros amigos.
A brincadeira no Brasil
De acordo com registros, o dia da mentira começou a ser praticado no Brasil em 1828. Na época, o jornal de Minas Gerais “A mentira” trazia informações falsas e bastante exageradas. A capa da primeira edição publicada no dia 1° de abril era um anúncio da morte de Dom Pedro I.
As pessoas desmentiram a notícia da falsa morte de Dom Pedro I no dia posterior ao anúncio. Mesmo assim, o periódico durou alguns anos, mas suas publicações movimentaram bastante a população na época.
Mesmo após o encerramento da publicação, “A mentira” ainda conseguiu enganar muitas pessoas. Por exemplo, na última edição, em 14 de setembro de 1849, a publicação chamou diversos credores com o objetivo de acertar dívidas em 1° de abril de 1850. Porém, além do encontro ser uma farsa, o local da reunião não existia.
Os habitantes da região sul do Brasil, descendentes de alemães, batizaram o dia da mentira como “Der AprilScherz” ou “A brincadeira de abril”. O homem que for o alvo da brincadeira é apelidado de “Der Narr” e a mulher é chamada de “Die Narrin”. Também são utilizadas expressões como “Dummkopp” ou “Der Dappes” para chamar o alvo da brincadeira.
Considerações finais sobre o dia da mentira
O dia da mentira é uma oportunidade sadia para interagir e brincar com as pessoas próximas. Entretanto, é importante estabelecer limites e não criar situações ou mentiras que possam colocar a si e aos outros em risco. Lembre-se que o 1° de abril, independente da origem, é uma data para brincar e relaxar com as pessoas.
Fonte: Britannica – NPR
Imagem: Pixabay