O surgimento de doenças contemporâneas e altamente transmissíveis como a COVID-19 obscureceu outros vírus que afetaram a sociedade no passado. Quanto a uma distância de tempo mais recente, podemos mencionar o exemplo a história da AIDS.
Quando comparada com a covid e outras infecções modernas, a AIDS tem uma capacidade de transmissão menor. Ainda assim, o suficiente para causar um estrago considerável. Em especial quando combinou a transmissão com sua característica peculiar: a supressão da imunidade.
Entretanto, dos anos 80 para cá, muitas mudanças já passaram sobre essa doença. Muito já se desenvolveu de tratamento para melhora de vida e mesmo de prevenção. Isso apesar de não termos alcançado ainda a esperança da cura definitiva da AIDS.
Abaixo apresentaremos uma investigação sobre a trajetória desse vírus até então. Trataremos detalhes sobre a natureza do vírus HIV; o impacto que ele teve na sociedade; e a sua situação no mundo atual.
Sobre a infecção da AIDS
Antes de comentarmos sobre a história da AIDS na sociedade é importante entender sobre seu vírus. Pois para observarmos sua constituição, sua transmissão e seus efeitos nas pessoas. É então um primeiro passo que será esclarecedor para o que for apresentado mais tarde.
Do HIV para a AIDS
A sigla AIDS sempre vem associada a outra sigla HIV, mas por que isso? Então, vamos diferenciar uma coisa da outra. Primeiramente, o HIV vem do inglês para Vírus de Imunodeficiência Humana. É um agente do gênero dos lentivírus, sendo assim constituído apenas por um genoma de RNA.
A transmissão do HIV de pessoa para pessoa ocorre através de secreções. Ou seja, é repassado através de substâncias como sêmen, hímen vaginal, leite materno e sangue. O efeito da transmissão e desenvolvimento desse vírus é o desencadeamento da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. SIDA ou AIDS, na sigla inglesa.
A imunidade é o alvo
O principal efeito que o HIV leva ao organismo humano também representa seu maior desafio. Ele ataca exatamente as células responsáveis pela defesa do corpo. Proteções como as Células T, leucócitos dendríticos e glóbulos brancos são assim debilitados.
Assim, o corpo fica fragilizado com o enfraquecimento ou inutilização da imunidade. Outros agentes infecciosos se beneficiam das condições decorridas da AIDS para se hospedar e se espalhar nos organismos. Algo que faz com que as condições trazidas pela doença sejam seu principal fator de mortandade.
Um ou dois
Com o maior conhecimento do vírus se pode perceber melhor suas variações. Portanto, o HIV tem dois tipos principais: o HIV-1 e o HIV-2.
O HIV-1 é mais agressivo, sendo capaz de se espalhar melhor nas células do corpo. Debilita assim a imunidade de forma mais eficaz e rápida. Já o HIV-2 tem menos poder para reprodução e difusão. Entretanto, também pode degenerar na AIDS.
O potencial dos dois vírus ainda se verifica na difusão da doença. O HIV-2 geralmente é limitada a região da África Ocidental, apresentando baixa infectividade. Já o HIV-1 tem alta infectividade e está espalhado globalmente, o que o faz ser um vírus pandêmico.
A AIDS e a humanidade
Foi na década de oitenta que a história da AIDS acometeu a humanidade com força. Seu impacto foi além de uma mortandade surpreendente. Também trouxe sérias consequências culturais e de comportamento. Muitos retrocessos, preconceito e mudanças foram ligadas ao avanço da doença. Vamos então conhecer o porquê.
Origem enigmática
Até hoje ainda há algo de misterioso nas origens da AIDS em humanos. Entretanto, algumas hipóteses têm avançado nesse caminho. O mais provável é que ela surgiu do contato de pessoas com outros símios. Chimpanzés, gorilas e outros primatas também apresentam um vírus semelhante ao HIV.
Se presume que a transmissão teria ocorrido com relações sexuais entre esses macacos e os humanos. Mas o mais intrigante é que o vírus estaria presente entre seres humanos desde o século XIX. A evolução do vírus somada a um mundo globalizado teria ocasionado a epidemia global a partir dos anos 80.
Do Congo Belga para o Ocidente
Entre as primeiras manifestações e a explosão nos anos 80, o foco da AIDS em humanos foi no Congo Belga. Sua capital, Kinshasa, então Léopoldville, foi registrada como epicentro viral entre 1920 e 1960.
Muitas especulações já foram feitas para a propagação da AIDS no ocidente. Casos como Arvid Noe e Grether Rask são classificados como infecções isoladas que antecederam a pandemia. Um piloto canadense, Gaetan Dugas, foi considerado o “Paciente Zero” da epidemia, algo que depois se provou incorreto.
GRID
Se especulava inicialmente que o vírus era transmitido via sexo anal, conforme os primeiros focos no ocidente foram notificados entre homossexuais americanos. Por isso, em 1981, a doença era conhecida como Imunodeficiência Relacionada ao Gays, ou GRID na sigla inglesa.
A associação foi responsável por aumentar, ainda mais, o preconceito contra pessoas homossexuais. Vulgarmente até se chamava a doença de “Câncer Gay”. Mas não tardou para que se notificasse casos entre heterossexuais. Se descobria que o contato sexual desprotegido era a causa. Entretanto, o estigma já estava feito.
O fim da revolução sexual
O fato de que a AIDS surgia como uma doença repassada sexualmente mais sua alta transmissibilidade encerrou a liberalização sexual. A revolução dos costumes que surgiu entre os anos 60 e 70 com a pílula anticoncepcional acabava de forma melancólica.
Entrava em cena o imperativo da camisinha. Também foram estimuladas medidas mais conservadoras como abstinência sexual e o sexo monogâmico. Isso sob a sombra de um vírus que já matou mais de 37 milhões de pessoas dos anos oitenta até hoje.
A AIDS na atualidade
A história da AIDS deixou um impacto notável nos arranjos culturais durante os anos 80 e 90. Porém, no novo século ela tem sido bem menos falada. Parte disso se deve aos avanços científicos quanto ao seu tratamento. Mas isso não significa que ela tenha deixado de matar. Enfim, vamos ver as nuances da AIDS para os dias de hoje.
Melhora na expectativa de vida
O que diferencia a AIDS hoje dá de 40 anos atrás é que foi possível aumentar a expectativa de vida. Novos tratamentos e medicamentos tornaram possível que os soropositivos não estejam condenados a morte breve. Aprender a viver com vírus virou algo possível.
Mas é necessário alertar que, apesar dos avanços científicos, quem sofre com AIDS ainda vive menos que uma pessoa saudável. O motivo seria que a imunossupressão ainda está ativa, apesar de desacelerada em alguém que se trata. Portanto, os avanços do tratamento não significam cura, tampouco eliminam a importância da prevenção.
Já existe uma pílula para não contrair o HIV
Falando em prevenção, uma informação que passa despercebida é que já existe uma pílula que previne AIDS. A Profilaxia Pré-Exposição, ou PrEP, é uma inovação que combina duas substâncias, o tenofovir e a entricitabina. Forma assim um coquetel de um comprimido que impede a transmissão do HIV.
No Brasil, a pílula tem sido administrada para grupos considerados com mais chances de contato com o vírus. Prioritariamente gays, pessoas trans e profissionais de sexo. Para usar o medicamento é necessário consultar um profissional de saúde para se informar quanto aos efeitos colaterais.
A doença em um mundo desigual
Alguns países têm controlado a transmissão do HIV com campanhas de prevenção e avanços tecnológicos. Mas países mais pobres ainda padecem com epidemias da doença devido à dificuldade em implementar tais medidas. Globalmente um terço de quem é identificado como soropositivo não recebe qualquer tratamento.
Para piorar estimasse que mais de oito milhões de pessoas com AIDS não sabem que tem a doença. Assim, a AIDS chega ao novo século ainda sem a cura definitiva e sem igualdade na distribuição do tratamento.
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Fontes: Science – Direct – Encyclopedia Britannica – BBC – UNAIDS – BMJ – WEBMD – Publimed
Imagem: Pixabay